sábado, 15 de agosto de 2009

Bronca do Ariel

Ultimamente tem se falado e tocado muito punk rock por aí, e eu fico me perguntando: com que intenção?
A mídia, de modo geral, sempre procurou omitir ou desmoralizar o Punk, como música e movimento. Muita gente falando, muitas opiniões contrárias, várias críticas. Sempre no velho estilo do patrulhamento. Bandas como R.D.P., INOCENTES e outras, falam sobre o punk de maneira preconceituosa, fazendo constantes ataques ao “Movimento SP Punk”, afirmando diversas vezes que o movimento acabou na ponta de uma faca, que não existe mais uma cena, que eles evoluíram para outros estilos etc... Ora, para quem parou de curtir faz tempo, isso até parece coisa de cara frustrado, não é mesmo?
Nós apenas não compartilhamos com puxa sacos que se venderam justamente para pessoas que eles mesmos criticavam. Quando estas mesmas pessoas que nos criticam querem posar de radicais, falam que são ou foram do movimento. Tudo é uma questão de marketing, não é mesmo? Aparecer é o que importa. Aparecer nas casas noturnas da moda, nos lugares chics da cidade e tudo mais para agradar seus “poderosos padrinhos”.
Como todos sabem, o dito rock’n’roll tupiniquim criou certas estruturas e se deixou aniquilar por elas. Sua sede de sucesso nada mais é do que uma postura de degradação e humilhação perante certos tipos. Pensam que são “astros”, mas não passam de uma geração de medíocres. Lembro que há algum tempo atrás esses burguesinhos (Ex: TITÃS) vinham buscar inspiração nos mais básicos, porém, criativos, acordes do punk rock. Ora, se os “astros” da geração de hoje se propõe a fazer o som voltado para o heavy metal, ou um lado mais afro, jamaicano ou coisa parecida, isso não quer dizer que os nossos acordes básicos são puro lixo. Ao optarmos pelo punk, optamos também por um movimento que pelo menos nunca se vendeu por migalhas ou se entregou por merreca para a burguesia. Permanecemos como um tabu para maioria das pessoas. Nós olhamos o mundo com revolta e ódio, mas de cabeça erguida e dispostos sempre a encarar de frente qualquer pessoa que nos olhe nos olhos, coisa que para eles é até difícil. Nosso som representa tudo isso, e se ele é simples e nervoso, é porque ele é nossa própria realidade. Somos músicos que têm uma preocupação fundamental, entre o que fazemos e o que sentimos, por isso temos uma atitude radical quanto à moda, ou seja, não compartilhamos com modismos de espécie alguma, como esses cuzões que insistem em querer aparecer posando de ridículos fantoches do sistema.
Não acredito que alguém seja superior musicalmente a outro quando opta por virtuosismos e poses de um gosto, no mínimo, duvidoso. Quando o punk surgiu, sua intenção era desmascarar certas tendências de estagnação, combatendo-as com criatividade. Existiram e existem excelentes bandas punks que tiveram influências de ótimas bandas do passado, bandas como os STOOGES, de Iggy Pop, ou os radicais do MC5, que nunca foram divertidos, assim como as bandas hardcore “autênticas” também não. E aí também não cabe nenhuma pose e nenhuma superioridade. O importante é que os autênticos não se deixam abalar pela horda de babacas que está invadindo a cena musical atual, patrocinada por medíocres que tentam conseguir sua pseudo-fama às custas de uma autopromoção barata.
Queríamos deixar claro, que se fazemos um som cru e simples, é porque queremos, e se nossa atitude é radical, é porque negamos toda essa farsa que é a música brasileira atual. Vem um cara com um banquinho e um violão e rouba toda a rebeldia que representa o rock and roll. Acabou neles o tesão de subir no palco e ser inesperado, de deixar todos surpresos com alguma coisa, de arrancar reações das pessoas, sejam elas boas ou más. Hoje em dia, eles primam pela técnica e se esqueceram da loucura.
Sobre a violência do nosso movimento, gostaria de lembrar a todos que a sociedade atual é violenta ao extremo, e que apenas nos adaptamos à realidade. Basta ver o número de policiais que estão em cana pelos mais variados crimes que cometeram perante o sistema a que tanto protegem.
Quando falamos em nome do movimento punk, falamos também por todos os explorados que se submetem ao sistema, e que têm medo de protestar. Não temos medo algum, e, aliás, já estamos calejados o bastante para parar. A maioria das pessoas que nos criticam, gostariam de nos verem domesticados e submissos ao esquema que hoje em dia lhes dá oportunidade de sucesso. O que seria esse sucesso? Seria compartilhar com pseudos-intelectuais uma postura burguesa que ficou latente durante tanto tempo em que “protestavam”.
Todos os punks que existem em São Paulo, seja na periferia, subúrbio ou cidade (e não são poucos) ignoram todo esse lixo que sai das bocas desses palhaços, e fica um conselho: Nos esqueçam, pois faz tempo que já esquecemos de vocês. Nosso movimento nivela por baixo, pelos subterrâneos da sociedade. Como ratos, roemos as estruturas do poder, para mais adiante ficar mais fácil quando alguém quiser saber se ele cai.


Ariel – Movimento SP Punk – Vocal dos INVASORES DE CÉREBROS

Fonte: revista Dynamite (junho 1994)

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